Existe uma pequena estrada sob meus pés, ela começa na porta do meu quarto. Ultrapassa lamaçais, bifurcações, estradas de chão batido e abismos, e termina toda vez que eu chego em casa e fecho os olhos. Ela me leva na direção da tua casa e, mesmo que eu não saiba nem teu endereço, posso descrever um a um os passos a serem dados até o teu portão.
Ignoro todas as placas que encontro pelo caminho. Finjo não ouvir os conselhos de amigos que sempre gritam para eu parar. Abstenho-me de pensar em qualquer coisa que me faça empacar no chão e me impeça de te buscar, do mesmo modo que ignoro as vozes que sempre gritam me impedindo de tentar. De tanto ouvir “não faz isso” eu fiquei SURDA.
Não me importo em ser engolida por precipícios, nem por ficar sempre sem combustível na linha de chegada. A queda nunca é ruim, embora incomode, quando tu tens um motivo único para chegar do outro lado da ponte. Despencar de uma altura de, talvez, 500 metros, não traz dor nenhuma quando tu estás acostumado com dores maiores, a de esperá-la, por exemplo. Eu caio sorrindo. Enquanto o vento corta os lábios já vou planejando o próximo plano. Quando as letras do alfabeto acabam eu recomeço. Não quero saber o que vai acontecer quando eu me chocar com o chão, só sei que ao levantar vou voltar pra te buscar.
Desobedeço todos os planos que meu consciente reservou para mim. Ouço sempre o pensamento já cansado de ficar-pelo-caminho. Fico à beira do precipício muitas vezes, mas não é pela vontade de cair, é para jogar lá dentro todos esses anos que passei longe do toque das tuas mãos.
Entrar na tua órbita usual dói. Às vezes tu me deixas sem ar. Às vezes eu fico sem ar de tanto gritar teu nome. A voz muda, e parece cada vez mais inconstante. A garganta vai buscando emitir qualquer som que chegue ao menos perto da janela do teu quarto, enquanto minha gravata vai me consumindo o ar.
Tenho certeza de que não sou nada normal. Fizeram-me capaz de sentir demais, de amar demais, de lutar demais, de ter a singela paciência pra te esperar, mesmo que seja demais. Eu vou escrevendo o que é sentido até quando não faz sentido. Eu vou permanecer aqui, intacta, após as quedas, os naufrágios, as tempestades de desejo de te apertar com um abraço tão forte quanto o impacto de um beijo-cinematográfico-anos-80.
Vou te desejar a cada tic tac do meu relógio. Vou permanecer te querendo todas as 24 horas do dia, mesmo que por apenas meia hora nossos olhos pudessem entrar em uma sintonia tão evidente quanto os meus ao olhar essa tua foto.
Eu vou permanecer te querendo nos próximos 30 minutos, e desejando te fazer me querer nos 30 minutos seguintes, sem que a gente possa parar de se desejar, mesmo que acabe todo o meu ar.
Nanny Almeida
quarta-feira, 21 de abril de 2010
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