quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tarde demais

Acabara de tomar banho quando ouve a campainha, abre a porta e vê a amiga dela:
- Bom dia Francisco, tudo bem?

- Olá menina, tudo e tu?

- Olha vim só entregar-te isto que a minha amiga deixou quando se foi embora.

E entrega-lhe um pequeno embrulho, acompanhado de um bilhete.

- Embora, o que queres dizer com isso? Ela não ía só na segunda, hoje é só sexta feira!

- Pois, mas ela não conseguiu ficar mais tempo nem lidar com a indiferença. Bom, espero que leias isso com atenção, fica bem. Ah, olha, ela não merecia a forma como a trataste, nada mesmo!

Meio atordoado ele fecha a porta e senta-se na cama olhando o embrulho. Começa a tirar o papel e quando vê o que é, não quer acreditar. Numa caixa transparente, o perfume que ela um dia disse ser o seu preferido - Armand Basi. Era o perfume que ela dizia que adorava e que só tinha até agora comprado para o filho, era demasiado especial para o oferecer a alguém que não fosse tão especial assim....

Com as mãos meio trémulas, abre o bilhete:

"Francisco (nunca o quis chamar de Chico com os amigos e família, era sempre Francisco, dito num tom de voz calmo, pausado, quente, envolvente) sabes da melhor? Apaixonei-me por ti!

Pois é, apesar de tudo, dos silêncios, das ausências, da indiferença eu consegui mais uma vez meter o pé na argola e apaixonei-me por ti. Não quero com isto dizer-te que me arrependi. Não!!! Faria tudo de novo. Os poucos instantes que estive contigo e a partilha de emoções e desejos fariam com que, sem hesitação, repetisse tudo de novo.

Contigo apaguei lembranças, renasci para o desejo e o amor, descobri que estou viva, que sinto, que quero, que gosto do que me rodeia, que a vida afinal, vale mesmo a pena ser vivida.

Nos momentos em que estive contigo, nada podia ser melhor, tudo foi perfeito. A tua ternura, o carinho, o toque, as palavras, a forma como olhavas para mim. Os momentos de paixão, a ternura do depois, o abraço envolvente e quente, a forma como me tocavas, olhavas, rias. Os teus olhos castanhos que me olhavam sérios, inescrutáveis, e que me deixavam sempre com um fio de esperança.

Mas depois...os dias a fio sem telefonares, a indiferença, a inconstância, o paradoxo da tua forma de ser, o silêncio...ah isso sim, me doeu como nunca vais imaginar. É uma dor quase fisica, que toma conta de mim e faz com que, mesmo sem querer, fique apática, de lágrima a cair, pensando se realmente tu tens duas personalidades, ou então, qual o motivo para atitudes tão opostas.



Ainda pensei em perguntar, mas achei melhor não. E porque estou cansada de não te ter e não te ver, só te ter por breves momentos e de vez em quando, por não aguentar ficar tão perto e ver-te de longe todos os dias sem te poder tocar e sentir, por tudo isso, e por tu saberes que daqui a uns dias me vou embora de vez e nem assim quereres estar mais tempo comigo, por isso tudo, decidi ir-me embora mais cedo.

Adeus Francisco, fica bem e faz-me o favor de seres muito muito feliz!"

Incrédulo olha para o bilhete. Abana a cabeça. Veste-se a correr e corre para casa da amiga dela. Bate à porta, a porta abre-se:

- Dá-me o endereço dela em Lisboa. Preciso disso, ela tem o telefone desligado. Preciso de falar com ela antes que embarque de vez para onde vive.

- Pois...ela pediu-me para só te entregar o bilhete hoje. É que, para além de antecipar a ida para Lisboa, antecipou também a viagem e neste momento deve estar a voar há umas 3 horas.

- Dá-me o contacto dela

- Não! Ela pediu-me para não o fazer em hipotese alguma. Fica bem Francisco.

De cabeça baixa, ele desce as escadas. Não acredita. Sempre pensou que tentando não se envolver seria melhor para os dois. Apesar disso, envolveu-se, e acabou tomando aquelas atitudes parvas só para não se magoar porque sabia que ela iria embora para longe. Mas nunca pensou que ela também se tinha apaixonado....que a tinha magoado tanto, que significava tanto para ela.

De cabeça baixa, lágrima teimando em saltar, regressa a casa....vazio, desistido, cansado, revoltado...afinal era tarde demais!

Não deixe o seu Amor fugir.


desconheço o autor

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