quinta-feira, 29 de abril de 2010

voce


VOCE
Você entrou na minha vida de uma forma tão terna e doce
Encantou-me com seu jeito amigo, carinho e atenção
Você que me conhece
Sabe dos meus bons e maus momentos
Voce que me ouve me atende.
Já me viu rir e chorar
Em questão de segundos
Fala o que eu preciso ouvir
Não o que eu quero ouvir, sabe que é o único que pode fazer.
Porque sabe que te amo e te respeito.
Obrigado por voce ser voce
Meu eterno amigo.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A VAIDADE

Havia um rei que procurava bons pintores para decorar seu palácio. Duas equipes – uma grega e uma chinesa – se candidataram para realizar o trabalho. Como teste, o rei pediu que cada uma decorasse uma parede de uma das salas do palácio. Para que um grupo não visse o trabalho do outro, escolheu paredes opostas e colocou uma cortina no meio.

Os chineses pintaram sua parede com o maior cuidado, enquanto os gregos apenas poliram sem parar a superfície da outra. Finalmente o rei resolveu ver o resultado e mandou remover a cortina.

De um lado viu a bela pintura chinesa. Na outra parede, que havia sido polida até transformar-se num espelho, o rei também viu a bela pintura chinesa, mas com sua própria imagem refletida no meio.

"Este é melhor", disse o rei. E os gregos conseguiram o emprego.

LEMBRANÇAS

Um velho sábio chinês estava caminhando por um campo de neve, quando viu uma mulher chorando. Dirigiu-se à ela e perguntou:

- Porque choras?

- Porque me lembro do passado, da minha juventude, da beleza que via no espelho... Deus foi cruel comigo por me fazer lembrar. Ele sabia que, ao recordar a primavera da minha vida, eu sofreria e acabaria chorando.

O sábio, então, em silêncio, ficou contemplando o campo de neve, com o olhar fixo em determinado ponto. A mulher, intrigada com aquela atitude, parou de chorar e perguntou:

- O que estás vendo aí?

- Eu vejo um campo florido, disse o sábio. Deus foi generoso comigo por me fazer lembrar. Ele sabia que, no inverno, eu poderia sempre recordar a primavera, e sorrir.

A RIQUEZA

Certa vez um rei muito poderoso estava oferecendo uma festa em seu palácio quando, entre seus convidados, encontrou um velho ermitão pelo qual tinha grande respeito.

Dirigiu-se a ele, dizendo: -Eu admiro um homem que se contenta com tão pouco.

O ermitão olhou-o com um olhar sereno e profundo, e disse: - Eu admiro Vossa Majestade, que se contenta com menos do que eu.

O rei, surpreso com as palavras do velho, disse: - Mas como o senhor me diz isso?! Todo esse país me pertence!

E o ermitão respondeu: - Eu tenho as cores da natureza, o perfume do mar, a força das montanhas, eu tenho o Sol e a Lua, a música das estrelas, eu tenho Deus na minha alma. Vossa Majestade, porém, tem apenas esse reino...

desconheço o autor

A PEDRA NO CAMINHO

Conta-se a lenda de um rei que viveu num país de além-mar há muitos anos. Ele era muito sábio e não poupava esforços para ensinar bons hábitos a seu povo. Freqüentemente fazia coisas que pareciam estranhas e inúteis; mas tudo que fazia era para ensinar o povo a ser trabalhador e cauteloso.

- Nada de bom pode vir a uma nação - dizia ele - cujo povo reclama e espera que outros resolvam seus problemas. Deus dá as coisas boas da vida a quem lida com os problemas por conta própria.

Uma noite, enquanto todos dormiam, ele pôs uma enorme pedra na estrada que passava pelo palácio. Depois foi se esconder atrás de uma cerca, e esperou para ver o que acontecia.

Primeiro veio um fazendeiro com uma carroça carregada de sementes que ele levava para moagem na usina.

- Quem já viu tamanho destino? - disse ele contrariadamente, enquanto desviava sua parelha e contornava a pedra. - Por que esses preguiçosos não mandam retirar essa pedra da estrada? - E continuou reclamando da inutilidade dos outros, mas sem ao menos tocar, ele próprio, na pedra.

Logo depois, um jovem soldado, veio cantando pela estrada. A longa pluma do seu quepe ondulava na brisa, e uma espada reluzente pendia à sua cintura. Ele pensava na maravilhosa coragem que mostraria na guerra.

O soldado não viu a pedra, mas tropeçou nela e se estatelou no chão poeirento. Ergue-se, sacudiu a poeira da roupa, pegou a espada e enfureceu-se com os preguiçosos que insensatamente haviam largado uma pedra imensa na estrada. Então, ele também se afastou, sem pensar uma única vez que ele próprio poderia retirar a pedra. Assim correu o dia. Todos que por ali passavam reclamavam e resmungavam por causa da pedra colocada na estrada, mas ninguém a tocava.

Finalmente, ao cair da noite, a filha do moleiro por lá passou. Era muito trabalhadora, e estava cansada, pois desde cedo andava ocupada no moinho.

Mas disse a si mesma:

- Já está quase escurecendo, alguém pode tropeçar nesta pedra à noite e se ferir gravemente. Vou tirá-la do caminho.

E tentou arrastar dali a pedra. Era muito pesada, mas a moça empurrou, e empurrou, e puxou, e inclinou, até que conseguiu retirá-la do lugar. Para sua surpresa, encontrou uma caixa debaixo da pedra.

Ergueu a caixa. Era pesada, pois estava cheia de alguma coisa. Havia na tampa os seguintes dizeres: "Esta caixa pertence a quem retirar a pedra." Ela abriu a caixa e descobriu que estava cheia de ouro.

A filha do moleiro foi para casa com o coração feliz. Quando o fazendeiro e o soldado e todos os outros ouviram o que havia ocorrido, juntaram-se em torno do local na estrada onde a pedra estava. Revolveram o pó da estrada com os pés, na esperança de encontrar um pedaço de ouro.

- Meus amigos - disse o rei -, com freqüência encontramos obstáculos e fardos no caminho. Podemos reclamar em alto e bom som enquanto nos desviamos deles se assim preferirmos, ou podemos erguê-los e descobrir o que eles significam. A decepção é normalmente o preço da preguiça.

Então o sábio rei montou em seu cavalo e com um delicado boa noite retirou-se.

Carlos Drumond de Andrade

BONECA DE SAL

A boneca de sal vagueou pela terra até chegar ao mar, onde ficou absorta a comtemplar aquela massa imensa de água inquieta que ela nunca vira.

Quem é você? pergunta, então, ao mar. Pois entre e veja, diz o mar sorrindo.

Dito e feito, ela entrou dentro do mar e quanto mais entrava, mas se dissolvia até que só restasse um pouco do seu corpo.

Antes de derreter-se totalmente, exclamou a Boneca admirada: Agora, sei quem eu sou!


O canto do pássaro, Edição Loyola, São Paulo, Brasil, 1992
O guerreiro e a espada


-Quem é o melhor no uso da espada?, perguntou o guerreiro.

-Vá até o campo perto do castelo, disse o mestre. Ali existe uma rocha. Insulte-a.

O guerreiro, surpreso, retrucou: -Porque devo fazer isto? A rocha jamais me responderá de volta.

-Então, ataque-a com sua espada, disse o mestre.

-Tampouco farei isto, respodeu o discípulo. Minha espada se quebrará se o fizer. E se atacá-la com minhas mãos, ferirei meus dedos sem conseguir nada. Mas minha pergunta é outra: quem é o melhor no uso da espada?

-O melhor no uso da espada é aquele que se parece com uma rocha, disse o mestre. Sem desembainhar a lâmina, consegue mostrar que ninguém poderá vencê-lo.

Paulo Coelho

sábado, 24 de abril de 2010

A SOMBRA E A LUZ DO AMOR



Por que o amor começa e acaba sem avisar?
Que poder tão grande é esse de nos levar ao céu,
para depois nos arriar à terra, sem nada explicar?
Quando chega vem estilhaçando vidraças,
quando nos deixa nem um adeus sabe dar!!




Quando amamos tudo brilha à nossa volta,
Brilha o sol, os pingos da chuva, as gotas de orvalho!
Até a noite brilha, mesmo com a ausência da lua,
ou o brilho das estrelas!



É um brilho de euforia, de paixão, de fantasia,
de vida nascendo,nos dando motivação!
É um brilho que incendeia, é sangue correndo nas veias
soltando as rédeas do coração!



Podem vir seres de todos os planetas nos dizendo:
“O amor é bom só no começo,depois é dor e desilusão!”
Mas se o amor não fosse bom nem no começo,
o que restaria no mundo de bom?



Um dia o amor acaba, como ficam nossas vidas?
Ah... ficam sem sonhos, sem esperanças, sem ilusão!
Nada existe além de sombras!



O coração, antes tão acelerado, volta ao compasso ritmado,
não se importando com mais nada,nem mesmo com o amor!
Um só coração sai machucado!
Sempre o que mais amou!!!



Iracema Zanetti

ANJO DEMONIO

Anjo Demônio
Anjo Demônio

Para além da saudade
Mora um anjo de duas caras
Vezes arlequim, outras pierrô
Sorriso e lágrimas, amor e dor

Hora mensageiro afável
Acaricia-nos o coração
Noutras fantasma indelével
Empurra-nos para escuridão

Saudade, anjo infiel
Senhor da própria vontade
Guardião das chaves
Do inferno e do céu

alexandre simas

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tarde demais

Acabara de tomar banho quando ouve a campainha, abre a porta e vê a amiga dela:
- Bom dia Francisco, tudo bem?

- Olá menina, tudo e tu?

- Olha vim só entregar-te isto que a minha amiga deixou quando se foi embora.

E entrega-lhe um pequeno embrulho, acompanhado de um bilhete.

- Embora, o que queres dizer com isso? Ela não ía só na segunda, hoje é só sexta feira!

- Pois, mas ela não conseguiu ficar mais tempo nem lidar com a indiferença. Bom, espero que leias isso com atenção, fica bem. Ah, olha, ela não merecia a forma como a trataste, nada mesmo!

Meio atordoado ele fecha a porta e senta-se na cama olhando o embrulho. Começa a tirar o papel e quando vê o que é, não quer acreditar. Numa caixa transparente, o perfume que ela um dia disse ser o seu preferido - Armand Basi. Era o perfume que ela dizia que adorava e que só tinha até agora comprado para o filho, era demasiado especial para o oferecer a alguém que não fosse tão especial assim....

Com as mãos meio trémulas, abre o bilhete:

"Francisco (nunca o quis chamar de Chico com os amigos e família, era sempre Francisco, dito num tom de voz calmo, pausado, quente, envolvente) sabes da melhor? Apaixonei-me por ti!

Pois é, apesar de tudo, dos silêncios, das ausências, da indiferença eu consegui mais uma vez meter o pé na argola e apaixonei-me por ti. Não quero com isto dizer-te que me arrependi. Não!!! Faria tudo de novo. Os poucos instantes que estive contigo e a partilha de emoções e desejos fariam com que, sem hesitação, repetisse tudo de novo.

Contigo apaguei lembranças, renasci para o desejo e o amor, descobri que estou viva, que sinto, que quero, que gosto do que me rodeia, que a vida afinal, vale mesmo a pena ser vivida.

Nos momentos em que estive contigo, nada podia ser melhor, tudo foi perfeito. A tua ternura, o carinho, o toque, as palavras, a forma como olhavas para mim. Os momentos de paixão, a ternura do depois, o abraço envolvente e quente, a forma como me tocavas, olhavas, rias. Os teus olhos castanhos que me olhavam sérios, inescrutáveis, e que me deixavam sempre com um fio de esperança.

Mas depois...os dias a fio sem telefonares, a indiferença, a inconstância, o paradoxo da tua forma de ser, o silêncio...ah isso sim, me doeu como nunca vais imaginar. É uma dor quase fisica, que toma conta de mim e faz com que, mesmo sem querer, fique apática, de lágrima a cair, pensando se realmente tu tens duas personalidades, ou então, qual o motivo para atitudes tão opostas.



Ainda pensei em perguntar, mas achei melhor não. E porque estou cansada de não te ter e não te ver, só te ter por breves momentos e de vez em quando, por não aguentar ficar tão perto e ver-te de longe todos os dias sem te poder tocar e sentir, por tudo isso, e por tu saberes que daqui a uns dias me vou embora de vez e nem assim quereres estar mais tempo comigo, por isso tudo, decidi ir-me embora mais cedo.

Adeus Francisco, fica bem e faz-me o favor de seres muito muito feliz!"

Incrédulo olha para o bilhete. Abana a cabeça. Veste-se a correr e corre para casa da amiga dela. Bate à porta, a porta abre-se:

- Dá-me o endereço dela em Lisboa. Preciso disso, ela tem o telefone desligado. Preciso de falar com ela antes que embarque de vez para onde vive.

- Pois...ela pediu-me para só te entregar o bilhete hoje. É que, para além de antecipar a ida para Lisboa, antecipou também a viagem e neste momento deve estar a voar há umas 3 horas.

- Dá-me o contacto dela

- Não! Ela pediu-me para não o fazer em hipotese alguma. Fica bem Francisco.

De cabeça baixa, ele desce as escadas. Não acredita. Sempre pensou que tentando não se envolver seria melhor para os dois. Apesar disso, envolveu-se, e acabou tomando aquelas atitudes parvas só para não se magoar porque sabia que ela iria embora para longe. Mas nunca pensou que ela também se tinha apaixonado....que a tinha magoado tanto, que significava tanto para ela.

De cabeça baixa, lágrima teimando em saltar, regressa a casa....vazio, desistido, cansado, revoltado...afinal era tarde demais!

Não deixe o seu Amor fugir.


desconheço o autor

nem tudo é facil

É difícil fazer alguém feliz,
Assim como é fácil fazer triste.

É difícil dizer eu te amo,
Assim como é fácil não dizer nada.

É difícil ser fiel,
Assim como é fácil se aventurar.

É difícil valorizar um amor,
Assim como é fácil perdê-lo para sempre.

É difícil agradecer por hoje,
Assim como é fácil viver mais um dia.

É difícil abrir os olhos e enxergar o que de bom a vida te deu,
Assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.

É difícil se convencer de que se é feliz,
Assim como é fácil achar que sempre falta algo.

É difícil fazer alguém sorrir,
Assim como é fácil fazer chorar.

É difícil se pôr no lugar de alguém,
Assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.

Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão?

Mas quem disse que é fácil ser perdoado?!

Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar?

Mas quem disse que é fácil se arrepender?!

Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir?

Mas quem disse que é fácil encontrar alguém
que queira escutar?!

Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas?

Mas quem disse que é fácil ouvir você?!

Se alguém te ama, ame-o...
É difícil se entregar?

Mas quem disse que é fácil ser feliz?!

Nem tudo é fácil na vida...
Mas, com certeza, nada é impossível...
Precisamos acreditar, ter fé
e lutar para que não apenas sonhemos,
Mas também tornemos
todos estes Sonhos, Realidade!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Simples assim

Às vezes me pego pensando, e pensando demais. Na esquina de casa, no trânsito, olhando pro céu. Sim, sou eu, pensante, não distraído. Cheio de sonhos e cheio da realidade.
Eu não falo de um mundo de fantasias. Eu batizei meus Sonhos de Motivos. Eles me impulsionam pra frente. Fazem-me bater, chutar as portas, e querer sempre chegar ao próximo round.
Um dia desses, em uma de minhas andanças, percebi que tinha algo a encontrar – um novo Motivo, talvez. Não sabia muito o que era, mas tinha certeza que precisava. Se era grande ou pequena, não sabia. Na verdade, eu não sabia de quase nada, mas estava convicto de que era a hora certa de achar.
Não era uma coisa do tipo que a gente usa, joga, deixa de lado, ou até esconde dos amigos enquanto é nova. Não era do tipo de coisa que a gente só quer uma vez na semana, ou mesmo nas horas vagas. Era do tipo de se ter diariamente, de mostrar como um quadro de Van Gogh. Não era de porcelana, nem de ouro, mas tinha um valor danado, e isso eu sabia.
Tinha certeza de que eu avistaria de longe, por detrás de matos, muros, escombros, ou carros estacionados. Quase ninguém tem. Quem tem, deveria cuidar – já dizia Hebert Viana. Tem gente que não cuida, tem gente que não sabe se tem, até que se perde.
Tem gente que tem um monte de coisas, mas está sempre à procura de algo novo pra comprar. Tem gente que tem uma coleção. Tem gente que não dá valor pro que tem. Tem gente que não tem nada.
Eu, agora, tenho uma cama, um computador no colo e um monte de coisas pra dizer. Tenho ventos fortes que movimentam os livros entreabertos, os rascunhos e as folhas em branco.
Eu tenho um bocado de “talvezes”, mas grandes e genuínas certezas. Dentre elas, a lastimável de que está sobrando um lugar aqui, nesse texto – o do teu nome.

VOU TE ESPERAR

Existe uma pequena estrada sob meus pés, ela começa na porta do meu quarto. Ultrapassa lamaçais, bifurcações, estradas de chão batido e abismos, e termina toda vez que eu chego em casa e fecho os olhos. Ela me leva na direção da tua casa e, mesmo que eu não saiba nem teu endereço, posso descrever um a um os passos a serem dados até o teu portão.
Ignoro todas as placas que encontro pelo caminho. Finjo não ouvir os conselhos de amigos que sempre gritam para eu parar. Abstenho-me de pensar em qualquer coisa que me faça empacar no chão e me impeça de te buscar, do mesmo modo que ignoro as vozes que sempre gritam me impedindo de tentar. De tanto ouvir “não faz isso” eu fiquei SURDA.
Não me importo em ser engolida por precipícios, nem por ficar sempre sem combustível na linha de chegada. A queda nunca é ruim, embora incomode, quando tu tens um motivo único para chegar do outro lado da ponte. Despencar de uma altura de, talvez, 500 metros, não traz dor nenhuma quando tu estás acostumado com dores maiores, a de esperá-la, por exemplo. Eu caio sorrindo. Enquanto o vento corta os lábios já vou planejando o próximo plano. Quando as letras do alfabeto acabam eu recomeço. Não quero saber o que vai acontecer quando eu me chocar com o chão, só sei que ao levantar vou voltar pra te buscar.
Desobedeço todos os planos que meu consciente reservou para mim. Ouço sempre o pensamento já cansado de ficar-pelo-caminho. Fico à beira do precipício muitas vezes, mas não é pela vontade de cair, é para jogar lá dentro todos esses anos que passei longe do toque das tuas mãos.
Entrar na tua órbita usual dói. Às vezes tu me deixas sem ar. Às vezes eu fico sem ar de tanto gritar teu nome. A voz muda, e parece cada vez mais inconstante. A garganta vai buscando emitir qualquer som que chegue ao menos perto da janela do teu quarto, enquanto minha gravata vai me consumindo o ar.
Tenho certeza de que não sou nada normal. Fizeram-me capaz de sentir demais, de amar demais, de lutar demais, de ter a singela paciência pra te esperar, mesmo que seja demais. Eu vou escrevendo o que é sentido até quando não faz sentido. Eu vou permanecer aqui, intacta, após as quedas, os naufrágios, as tempestades de desejo de te apertar com um abraço tão forte quanto o impacto de um beijo-cinematográfico-anos-80.
Vou te desejar a cada tic tac do meu relógio. Vou permanecer te querendo todas as 24 horas do dia, mesmo que por apenas meia hora nossos olhos pudessem entrar em uma sintonia tão evidente quanto os meus ao olhar essa tua foto.
Eu vou permanecer te querendo nos próximos 30 minutos, e desejando te fazer me querer nos 30 minutos seguintes, sem que a gente possa parar de se desejar, mesmo que acabe todo o meu ar.

Nanny Almeida

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quando a moça entrou no ônibus só havia uma cadeira vazia, mas o homem gordo que tinha entrado na sua frente sentou-se lá. Isso deixou a moça feliz, ela gostava de ficar de pé no ônibus, seria estranho ficar de pé se houvesse alguma cadeira livre, então ela ficava feliz por todas as cadeiras estarem ocupadas.

Esta moça não era muito bonita, mas ficava linda quando sorria. E ela sabia disso, porque estava sempre sorrindo. A razão para a moça gostar de ficar de pé no ônibus era o fato de alguém sempre falar com ela, mesmo que fosse apenas um “dá licença”. Era tímida, não falava com ninguém, mas gostava quando alguém falava com ela, e gostava também de ficar ouvindo, discretamente, as conversas das outras pessoas dentro do ônibus. O ônibus era realmente um bom lugar para ela. Uma vez ela estava ouvindo a conversa de um jovem e feliz casal de namorados, o rapaz contou uma piada para a namorada: “Era uma vez um pintinho que se chamava Relam, toda vez que chovia Relam piava...” A namorada do rapaz não entendeu a piada e a moça que ouvia a conversa começou a rir. Não da piada, ela já conhecia essa, estava rindo do fato de a namorada do rapaz não ter entendido. O rapaz viu seu sorriso e falou:

– Menina, que sorriso lindo você tem! – a namorada dele não ficou com ciúmes, isso não era nada perto dos elogios que ele fazia a ela, e concordava sobre o sorriso da moça.
– Ah, obrigada!
– Tô falando sério, olha, deixa eu te dizer uma coisa...
– Hmm?
– Muitos caras vão se interessar por você, vão se apaixonar. Alguns vão se apaixonar pelo seu corpo, fuja destes, eles só vão querer trepar! Outros vão se apaixonar pelo seu rosto, estes já são melhores, vão querer coisa séria: namoro assumido pra deixar os pais orgulhosos e mostrar aos amigos uma namorada linda. Mas quando um cara se apaixonar pelo seu sorriso, não deixe escapar, este é o que vale a pena, é pra casar, é o cara que vai querer fazer você feliz de verdade, só pra ver você sorrir sempre...
– Que coisa mais linda, amor! – disse a namorada do rapaz.
– É a verdade, gatinha. – dirigindo-se à namorada – Eu me apaixonei pelo seu sorriso...

O casal começou a se beijar e a moça nem teve a chance de agradecer pelo conselho. Mas ela levou aquelas palavras em consideração, estava sempre sorrindo, à espera daquele que se apaixonaria pelo seu sorriso.

Toda vez que ficava de pé no ônibus a moça gostava de ficar perto de alguém interessante e torcer para aquela pessoa falar com ela. No dia em que o homem gordo entrou no ônibus na frente dela a pessoa mais interessante que ela viu foi um homem poucos anos mais velho que ela, com um olhar perdido de quem não sabia onde estava nem em que parada ia descer. Ele vestia uma camisa tão amassada que parecia ter sido tirada de dentro da boca de um cachorro. Os cabelos não estavam penteados e a barba precisava ser feita, mas para ela tudo isso era muito atraente.

Ficou de pé ao lado da cadeira do homem da camisa amassada e, como sempre, sorriu.

Aquele homem não tinha apenas o olhar perdido, ele realmente estava – ou era – completamente perdido. Mas se encontrou no sorriso da moça. Ele ainda estava aprendendo as coisas da vida, das pessoas e do mundo... Já tinha aprendido que era educado se oferecer para carregar as coisas das pessoas que ficavam de pé no ônibus. A melhor forma de iniciar uma interação com a moça naquelas circunstâncias era pedir para carregar seus cadernos, e foi o que fez.

– Oi, quer que eu carregue isso pra você? Parece pesado...
– Ah, obrigada! – ela ainda estava dizendo o ‘obri-’ enquanto já entregava seus cadernos, com um sorriso maior do que o usual.

O homem sorriu para ela também. Ele foi educado ao se oferecer para carregar os cadernos, mas não tinha noção de que seria inconveniente começar a lê-los. As convenções mais simples que imperam na sociedade eram estranhas para ele, que não entendia direito como as coisas funcionam nesse mundo. Abriu um dos cadernos da moça, que tinha muitos poemas, frases soltas e fragmentos de texto escritos com caligrafia impecável em todas as folhas. A moça ficou perplexa, e não conseguia ter nenhuma reação, apenas pensava: “Que enxerido! O que ele pensa que está fazendo? Por que abriu o meu caderno?”

Na primeira folha do caderno estava escrito um poema que falava algo sobre fugir para outro mundo, abaixo do poema, como uma assinatura da autora: Cecília Meireles.

O homem enxerido leu o poema e disse:

– Muito bonito isso que você escreveu, Cecília.

A moça ficou confusa, mas, vendo a ingenuidade do homem que folheava seu caderno como uma criança folheia um álbum de figurinhas, começou a rir, do mesmo jeito que riu da outra moça que não tinha entendido a piada do pintinho, e respondeu:

– É bonito mesmo, mas não fui eu que escrevi, e o meu nome é Gabriela... Você não conhece Cecília Meireles?
– Não, onde ela mora?
– Hahaha... Você está brincando, né?
– Juro que não estou. Vai, fala. Quem é essa tal Cecília?
– Haha... De que planeta você é? Pra começar ela não mora em lugar nenhum, morreu faz tempo. Foi uma grande poetisa. Você gosta de poesia?
– Estou gostando dessas do seu caderno, são todas da Cecília, ela era boa mesmo!
– Que bom que gostou. – ficou vermelha como se o elogio tivesse sido para ela.
– Você também faz poesia?
– Eu escrevo umas coisinhas, mas são horríveis, não deixo ninguém ver. – ficou mais vermelha ainda.
– Aposto que são tão boas quanto essas aqui.
– Você é gentil...
– Você tem um sorriso lindo, Gabriela. – a moça estava tão acostumada a receber elogios sobre o seu sorriso que nem se importava mais, mas, dessa vez ela já estava voltando à sua cor normal quando ficou vermelha de novo com esse elogio.

Mais três paradas e a moça chegaria ao colégio, mas ela estava ficando constrangida demais e sua timidez não lhe permitiria passar nem mais um segundo no ônibus. Pegou de volta seus cadernos, despediu-se daquele homem ingenuamente encantador e desceu em uma parada qualquer, teve de caminhar dez quarteirões e chegou atrasada para a aula de literatura.

O homem perdido não parava de pensar no sorriso da moça. Passou mais alguns minutos no ônibus e desceu em um lugar deserto o bastante para o que ele precisava fazer. Entrou num beco entre dois edifícios, onde ninguém podia vê-lo, tirou do bolso da calça algo parecido com um controle remoto de televisão, pressionou apenas um botão e foi puxado com uma força absurda para o céu. Acima das nuvens estava a sua nave, onde ele podia assumir sua verdadeira forma, diante da família, o homem desleixado transformou-se em uma grande massa flutuante e luminosa, azul, sem forma definida. Na sua língua ele disse ao irmão mais velho algo que poderia ser traduzido como: “Cara, tô apaixonado por uma terráquea! Ela tem umas coisas lindas que lá eles chamam de sorriso e poesia.”

Na aula de literatura Gabriela gostava de escrever. Ela abriu o caderno numa das poucas folhas em branco restantes e escreveu um poema confessando ter se apaixonado por um homem que parecia de outro mundo. Assinou o poema com um nome falso: Cecília Meireles

qndo o amor acontece

Felipe tinha quinze anos e era viciado em pornografia. O menino tinha uma grave tendência aos vícios. Com dez anos era viciado em video games, com vinte teria começado a fumar, aos trinta tornar-se-ia um alcoólatra e aos quarenta precisaria de remédios tarja preta para dormir. Mas foi salvo destes, e hoje, com quarenta anos, o seu único vício é a cebola.

Luísa tinha a mesma idade, morava no mesmo bairro, a duas quadras da casa de Felipe, estudava no mesmo colégio, na mesma turma. Os dois sentavam sempre nos mesmos lugares, no fundo da sala, porém em extremos opostos. Luísa no canto esquerdo, perto da porta, pois de lá era mais fácil correr para o banheiro quando sentia vontade de vomitar. Felipe no canto direito, na cadeira mais afastada do professor, ao lado de seu único amigo: Bruno, que era repetente, tinha dezoito anos e podia comprar as revistas pornográficas que revendia pelo triplo do preço a Felipe. Se Felipe tinha Bruno, Luísa não tinha ninguém, era completamente rejeitada. Ela pediu ao pai para sair do colégio onde estudara até a oitava série porque todos os dias eram humilhantes. Naquele colégio Luísa estudava no turno da tarde, saía de casa logo depois de almoçar e não tinha o costume de escovar os dentes regularmente. Num dia chuvoso o pai a obrigou a comer uma salada que tinha mais pedaços de cebola do que de todos os outros legumes juntos. Isso foi na sétima série, começo do ano. Até aquele dia Luísa tinha uma vida normal. E continuaria tendo se Maria Eduarda não tivesse resolvido sentar do seu lado, logo naquele dia.

Maria Eduarda era uma menina rica, de olhos verdes, cabelos pintados de vermelho e peitos maiores que os das outras de sua idade. Era a mais popular da sétima série ‘B’ do Colégio Dourado. Qualquer coisa que ela dissesse jamais seria esquecida nem questionada por ninguém daquela turma. E o que ela disse naquele dia foi:

– Eca! Que bafo de cebola, Lúcia!
Maria Eduarda tinha o costume de errar os nomes de propósito para fazer os outros se sentirem ainda mais insignificantes diante dela.

A partir daquele dia, em todo o colégio, só os professores ainda se referiam a Luísa apenas por seu nome. Até as cantineiras a chamavam ou falavam dela como “Luísa bafo de cebola”. E ninguém chegava perto o bastante dela para poder sentir seu forte hálito de eucalipto. Pois Luísa bafo de cebola tornara-se uma viciada em escovar os dentes desde o dia em que Maria Eduarda resolvera sentar do seu lado. Após mais de um ano e meio de humilhações diárias, Luísa finalmente conseguiu convencer seu pai a mudá-la de colégio para o segundo grau.

Foi para um colégio onde ninguém a conhecia, mas de alguma forma inexplicável a sua fama a perseguiu e lá ela continuava sendo chamada de Luísa bafo de cebola.

Felipe também era novato, mas já conhecia Bruno há muito tempo, os dois tinham apenas um ao outro como amigo. Moravam em casas vizinhas desde sempre. Felipe era o único naquele colégio que não zombava de Luísa e ficava com raiva de Bruno quando ele zombava, mas não podia fazer nada para impedir, Bruno era do tipo que resolve qualquer contrariedade com violência, e Felipe tinha amor à própria vida. Se alguém perguntasse a Felipe por que ele não zombava de Luísa, como todos os outros, ele não saberia responder, e talvez pensasse que pudesse ser algum tipo de gratidão, porque desde que Luísa entrou no colégio ele havia deixado de ser o alvo dos showzinhos diários de humilhações promovidos por Daniel e Guilherme, os bullies da turma. Debochar das espinhas de Felipe era como usar uma roupa fora de moda em plena era do bafo da Luísa. Mas não era este o motivo. Felipe estava apaixonado e não queria admitir nem para si mesmo.

Luísa era magra, absurdamente magra, seu corpo poderia ser desenhado com apenas meia dúzia de linhas retas. Tinha lábios finos e sobrancelhas grossas. Um estranho tipo de beleza que para Felipe era muito maior que o das mulheres das revistas e dos filmes pornôs. Para ele, não importava que ela tivesse bafo de cebola. Aqueles lábios finos tinham gosto de caramelo nos seus sonhos.

Felipe também era magro, mas isto não chegava a ser um absurdo. Era magro como um menino normal de quinze anos que tinha o metabolismo eficaz e cuja única atividade física praticada regularmente era a masturbação. Suas espinhas eram enormes e vermelhas, às vezes começavam a sangrar de repente e esses eram os momentos mais constrangedores, quando Guilherme costumava dizer algo como: “Felipe tá menstruando pela testa!” Luísa não via espinhas quando olhava para ele, gostava dele só porque ele era diferente. Ele tinha um caráter próprio e não fazia nada que todos os outros também fizessem, queria afirmar sua individualidade sem futilidades, tinha algo de único. Ela não teria nenhum problema em admitir, mas não tinha nenhuma amiga para confessar que estava apaixonada.

Ninguém sabe explicar como aquela cebola pintada de verde foi parar em cima da cama de Felipe em uma tarde de outubro. Mas o que realmente importa era o fato de que era uma cebola pintada verde. Também não importa como Luísa descobriu que verde era a cor preferida de Felipe, importa que colado na cebola havia um bilhete com um número de telefone.

Felipe estava saindo do banheiro e ia esconder uma revista debaixo da cama quando deu de cara com a cebola pintada de verde. Não entendeu, nem fez questão de entender nada, apenas torceu para que aquele número fosse o de Luísa bafo de cebola. E era. Quando ela disse “Alô” foi a primeira vez que Felipe ouviu sua voz, mas parecia estar reconhecendo uma voz com a qual já estava acostumado, pois era a mesma voz que ouvia em seus sonhos. Gaguejou para responder o “Alô” e Luísa, nervosa, o saudou: “Oi Felipe!”

O telefonema durou mais de uma hora, mas depois, nem Felipe nem Luísa conseguiam lembrar o que tinham falado. Os dois sentiam o mesmo nervosismo desesperador. Foi a primeira vez que Felipe usou o telefone. Luísa costumava usar muito o telefone para falar com suas amigas, quando tinha amigas. Foi a primeira vez que falou ao telefone com um menino. Ambos passaram a noite tentando lembrar trechos da conversa e se perguntando se haviam declarado seus sentimentos ou falado algo sobre uma cebola pintada de verde com um bilhete colado. Nenhum dos dois tinha se declarado, mas não precisavam mais.

Na manhã seguinte, os dois chegaram muito adiantados ao colégio, faltava quase uma hora para começar a aula. Felipe tinha olheiras enormes, não dormira naquela noite. Luísa também não, mas usava maquiagem para disfarçar. Assim que o viu, ela correu em sua direção, mas antes que pudesse dizer o tão ensaiado “bom dia, Felipe!” Ele disse: “Oi, Luísa” e sorriu. Até a aula começar eles conversaram novamente, tiveram, pessoalmente, a mesma conversa do telefone. Mas era tudo novo, afinal, não conseguiam lembrar de nada do que tinham conversado no dia anterior. Durante a aula sentaram em seus lugares de costume, mas não paravam de se olhar e sorrir um para o outro.

Foi no recreio que algo mágico aconteceu. Felipe, ao invés de ficar sentado nos degraus da escada, com Bruno, como sempre fazia, resolveu procurar por Luísa. Ela não estava na quadra, também não estava na pracinha, nem no corredor. Ela estava no lugar onde ficavam somente as pessoas que realmente não tivessem nada melhor para fazer no recreio do que esperar pela sua vez numa fila enorme, na cantina. Naquele dia Felipe fez o melhor investimento da sua vida. Decidiu entrar na fila e comprar um lanche, com o dinheiro que estava juntando para mais uma revista pornô. Comprou um cachorro-quente e uma Coca-Cola. Foi para a área das mesas e perguntou se podia sentar com Luísa, que comia uma fatia de bolo de chocolate e também tomava Coca-Cola, ela sorriu e disse: “Claro!”

Sentado perto dela, Felipe começou a pensar que ela não tinha bafo de cebola coisa nenhuma, o único cheiro que ele sentia era o do bolo de chocolate, que parecia delicioso, muito melhor que o seu cachorro quente. Eles não falavam nada, apenas comiam seus lanches.

Luísa o pegou de surpresa com o beijo. Foi logo depois que Felipe tomou o último gole do seu refrigerante. As pernas dele tremiam debaixo da mesa. Luísa não saberia explicar de onde tirou coragem para beijá-lo, mas o que importa é que beijou. Foi o primeiro beijo de ambos, eles não sabiam o quanto deviam abrir a boca, os dentes se batiam e muita saliva escorria. Mas aprenderam rápido e o segundo beijo já foi muito melhor, uma pena ter sido interrompido pela campainha indicando que o recreio tinha terminado. Voltaram para a sala de mãos dadas, sem dizer uma palavra.

Um desespero tomou conta de Felipe quando passou pela sua cabeça que quem estava com bafo de cebola era ele, pois havia muita cebola no seu cachorro-quente. O hálito de Luísa era maravilhoso. Enquanto a beijava, Felipe sentiu nos seus lábios finos o gosto de caramelo com o qual sonhava. Também sentiu o gosto da cobertura do bolo de chocolate e de tudo o que era gostoso. Mas Luísa não tinha percebido que ele estava com bafo de cebola, pois ela também só sentiu gostos bons enquanto o beijava, gosto de bacon e de mostarda, apesar de que não havia bacon nem mostarda no cachorro-quente, mas eram os gostos que ela queria.

À tarde conversaram de novo pelo telefone e Felipe fez uma pergunta só por curiosidade:

– Ei, por que você jogou logo uma cebola pela minha janela?
Luísa lábios de caramelo deu uma gargalhada e respondeu:

– Ah, eu precisava me livrar daquela cebola antes que o meu pai fizesse uma salada.